sexta-feira, 10 de junho de 2016

As drogas da nova geração

Por Luna Alimento


Sem celular, sem televisão, sem carne vermelha, sem glúten, sem lactose, ou seja, sem as drogas da nova geração.

Essas eram as únicas informações que nós tínhamos antes de embarcar para um paraíso chamado Piracanga. Duas amigas – uma advogada católica metódica e uma atriz judia impulsiva – em busca de algo em comum, o autoconhecimento.
Abandonamos todos os excessos – sentimentais e materiais – na fila de embarque do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Simplesmente pegamos nossas mochilas com algumas peças de roupa e partimos para explorar este novo horizonte na Bahia de todos os santos. Após longas horas de viagem, percursos de avião, de carro e a pé (para finalizar o caminho havia uma inesperada trilha), chegamos ao paraíso.

Pisando no solo sagrado de Piracanga, tivemos a nossa primeira e mais forte atitude de desapego diante de uma caixinha, na qual estava escrita a frase mais temida da era online – "celulares, aqui".
Foi curioso. Diante do choque inicial, a atitude das pessoas antes de entregar essa "prótese humana" nos surpreendeu. Todos acessaram suas listas de amigos no aparelho e começaram a ligar para avisar sobre o período de ausência iminente. Nesse intervalo de ligações, escutávamos declarações de amor, choros e até mesmo um "não me esquece".
Parecia viciados em drogas entrando em uma clinica de reabilitação.
Que loucura, não?

Largamos nossos celulares na tal caixa e prometemos que, a partir daquele momento, iriamos buscar em nossas almas todas aquelas respostas que tanto desejávamos.

Vinte dias intensos se passaram e chegou o dia em que abrimos a caixinha. A primeira notícia da minha timeline: “ataque contra judeus em Paris”.

Posso dizer que, nesse período afastadas dessa droga em formato de maquininha aprendemos a olhar o mundo com outros olhos. O nosso despertador era a natureza; a nossa fotografia era feita com os olhos; e a nossa ligação com a família era mental e espiritual. E posso te garantir, tudo isso é muito mais forte que um smartphone.

Topa ficar limpo dessa droga da nova geração?



ninguém morreu, muito pelo contrário.
Vivemos como nunca.


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